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Depois da COP30, o que realmente fica para o Brasil que produz

  • Foto do escritor: Donario Lopes de Almeida
    Donario Lopes de Almeida
  • 27 de nov.
  • 3 min de leitura
Agro sustentavel pela história

Quando a COP30 terminou e Belém voltou ao seu ritmo normal, ficou claro para mim que o Brasil ficou com a parte mais importante: o legado. Os estrangeiros voltaram para seus países, mas nós continuamos aqui, olhando para o que aconteceu, medindo o impacto real e entendendo o que isso significa para o futuro do nosso Agro. E, honestamente, o saldo é maior do que parece.


Houve frustrações, claro. Nenhuma COP entrega tudo o que promete, e o texto final sempre deixa a sensação de que faltou ambição. A burocracia global continua travada, as métricas climáticas seguem desalinhadas com a realidade tropical e as pressões comerciais vêm embrulhadas em discursos ambientais. Nada disso é novidade. Mas, apesar desses limites, algo diferente aconteceu desta vez.


O Agro brasileiro amadureceu. E amadureceu diante dos olhos do mundo.


Belém mostrou, com uma clareza difícil de ignorar, que a agricultura tropical é um modelo que funciona. Quando se coloca em campo — literalmente — integração lavoura-pecuária-floresta, pastagens recuperadas, tecnologia tropical, fixação biológica e múltiplas safras por ano, qualquer debate ideológico perde força. Não adianta argumento teórico quando a realidade se impõe de forma tão evidente. O Brasil levou a prática, não o discurso. E prática convence.


Também ficou claro que o país possui algo que poucas nações têm: a capacidade de crescer sem destruir. Milhões de hectares de pastagens degradadas podem voltar ao ciclo produtivo sem derrubar floresta. Isso é uma vantagem estratégica monumental num mundo que precisa aumentar a oferta de alimentos sem ampliar o desmatamento. É uma combinação rara de oportunidade econômica e credencial ambiental, e só o Brasil a possui em escala.


Ao mesmo tempo, ficou evidente que a ciência tropical é o próximo grande campo de disputa global. Métricas feitas para solos congelados, raízes rasas e biomas temperados simplesmente não servem para medir o desempenho de sistemas produtivos tropicais. Se o mundo quiser precisão, vai ter que aprender a medir como nós produzimos. E esse desafio — que é técnico, científico e político — está diante de nós agora.


O que me parece mais importante, porém, é o efeito psicológico e estratégico desta COP no próprio Brasil. Pela primeira vez, o país não saiu de um evento climático na defensiva. Ao contrário: saiu mostrando, explicando, influenciando e guiando o debate. Saiu com a percepção nítida de que o nosso modelo de produção é desejado, observável e replicável. Isso muda tudo. Da maneira como contaremos nossa história daqui para frente à forma como seremos incluídos em regramentos globais.


Agora vem a parte que realmente importa. Um país que deseja ocupar um espaço de liderança precisa consolidar sua narrativa, corrigir métricas, estruturar programas permanentes de recuperação produtiva, ampliar o crédito climático, acelerar a ciência e, sobretudo, comunicar melhor. Não para convencer quem não quer ouvir, mas para dar escala àquilo que já está dando certo.


A COP30 passa. O mundo volta para casa. Mas o Brasil fica com as oportunidades abertas, com uma agricultura que provou seu valor diante do planeta e com a responsabilidade de transformar esse protagonismo momentâneo em estratégia permanente. Belém foi vitrine. O próximo passo é transformar essa vitrine em política, mercado, desenvolvimento e renda.


O Agro brasileiro está pronto para isso. Talvez, pela primeira vez, pronto de verdade.



*Donário Lopes de Almeida é presidente do Conselho da Associação Brasileira de Marketing Rural e do Agro - ABMRA.

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